A reencarnação, o tema em si, um dos temas de maior repercussão e divulgação da doutrina espírita, alicerçado nas leis da criação, é um dos maiores triunfos do espiritismo, dentro dos tópicos espiritualistas, divulgado por seus adeptos.
A reencarnação está intimamente ligada à lei do desenvolvimento e da reciprocidade, latente na criação divina.
Ao mecanismo inerente da natureza, do desenvolvimento, vemos nas vidas sucessivas que compete a criatura humana, por meio do avançar dos séculos, o conhecimento do meio em que vive, das ciências, dos fenômenos espirituais, do amor, do perdão e tudo aquilo que favorece seu germinar, crescer e gerar frutos que Deus espera que brote por meio de seus pensamentos, atos e intuições.
A reciprocidade, conhecida também por lei de causa e efeito, mostra-se nas reencarnações por meio do reencontro com afetos e desafetos, no desvencilhamento de emaranhados por ele mesmo criado, até que a harmonia e perdão se estabeleça onde a dor e sofrimento tiveram lugar, bem como o reencontro com nosso lado luz e sombra, que se manifesta também nas interações humanas e no nosso íntimo; medos, vícios, apegos e outros sentimentos batem de novo na porta de nossos corações para que a sintonia benéfica venha apaziguar os ânimos, oriundo de um atuar agradável aos olhos de Deus.
O processo de desencarne, chamado vulgarmente como “morte” é fenômeno natural inerente a cada existência humana, e o processo pode ou não ser indolor, de acordo com o desenvolvimento espiritual e condições do trespasse de cada um.
Na física, não há que se falar em morte, pois em toda a matéria há apenas uma renovação, um aproveitamento, por isso a frase “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, conforme disse o famoso químico francês Lavoisier.
Se tal ocorre mesmo com a matéria, que serve somente de capa, de invólucro, seria diferente com o espírito, que é imortal e vivifica a matéria?
O processo de vidas sucessivas nos explica diversas aparentes controvérsias que podemos verificar no drama deste planeta: por que há tanto sofrimento na terra? por que algumas pessoas nascem com problemas físicos ou intelectuais, mesmo sendo de pais saudáveis e jovens? por que há tantas desigualdades sociais entre os indivíduos? seria realmente uma injustiça se considerarmos o pensamento tradicional e materialista de haver somente uma existência terrena concordar com tais disparidades. Ora, se nascemos como “anjinhos”, totalmente novos e sem culpa, porque haveria tanto sofrimento, muitas vezes já marcado no próprio corpo? isso não seria uma injustiça?
Acreditar que há injustiça é duvidar da dos desígnios de Deus, reclamar abertamente de tal fato é, portanto, duvidar da inteligência do criador, que mostra, por sua vez, que pouco entendemos Dele.
No livro espírita O amanhã a Deus pertence, de Zíbia Gasparetto, mostra a cena de Marcelo, que, trafegando de carro em alta velocidade atrás de Aline, bate o mesmo e falece no local, no entanto, sua alma recém saída do corpo continua a busca por sua mulher, que tomara rumo aos estados Unidos de avião.
Na cena, mesmo para uma pessoa que pouco ou nada tinha de experiência ou contato com fenômenos espirituais, o desencarne, ainda que movido por um acidente de carro, trágico, foi quase indolor, tendo o Marcelo a única preocupação, no caso, em saber com quem, como e onde a sua amada esposa estava.
Na obra Fios do Destino determinam a vida humana, de Roselis Von Sass, vemos diversos casos de momento de transição entre a vida e o pós vida, identificando que mesmo a maneira com a qual desencarnamos têm relação com acontecimentos de vidas anteriores, ao citar por exemplo casos em que, quando em vidas anteriores as pessoas causaram mortes violentas em outros indivíduos, estes, na presente encarnação terrena, podem ter desencarnes mais dolorosos, por meio de lei de causa e efeito.
A espiritualidade, visando nosso bem maior, veda que nos lembremos de experiências passadas por nosso próprio bem. Uma vez que é necessário conviver com afetos, mas principalmente os desafetos de vidas anteriores, como poderíamos aceitar dentro de nossa própria casa aqueles que, talvez, tenham sido os credores inescrupulosos do passado? ou quiçá ter como filho aquele que provocou a dor do adultério no passado? como perdoar, assim de imediato, aquela que motivou um homicídio? percebendo que seria melhor não nos lembrarmos dos pormenores de cada uma destas situações delicadas de outrora, Deus em sua misericórdia, resolveu que apenas por intuição, sentimos maior ou menor afeto, por este ou aquele que entre em contato conosco, nos lembremos destes encontros passados.
Por isso, mesmo em família podemos ter verdadeiros amigos e, por outro lado, pessoas as quais não guardamos menor afeição, ainda que devamos amar a todos, indistintamente.
A reencarnação, neste aspecto, torna-se uma oportunidade de desvencilhar-se de erros anteriores, de estancar ferimentos, de desencorajar a continuidade dentro e fora de nós mesmos, há relatos que o número de espíritos que desejam vir para a Terra é seis vezes maior do que aqueles que estão presentemente encarnados.
Jesus quando esteve na Terra já adiantou dizendo: “Na verdade, todo aquele que quiser ver o Reino de Deus terá de nascer de novo”. Longe dos sofismas, digno de fariseus daquela época, o sentido dessa frase é literal, lembrando que nascer de novo é o espírito, um tipo de tecido rarefeito e não renascer do corpo, que desvanece e volta ao pó da Terra.
Por outros dito como consciência, o espírito, na reencarnação, tem necessidade de novas experiências, para que cada vez mais possa se aproximar dos locais mais luminosos, da pátria espiritual, denominada por Jesus quando disse: “há muitas moradas na casa de meu pai”, até que por fim não precise mais renascer na Terra, que atualmente é um local de provas e expiações.
A reencarnação, portanto, é uma ferramenta de desenvolvimento, não um fim por si mesmo, acreditar que só porque devamos nos encarnar diversas vezes na Terra não justifica que possamos nos comprazer e dizer: “isto vou resolver na próxima existência”…. ou ainda “nesta vida já melhorei bastante, na próxima faço um pouco mais”…por estas e outras afirmações correlatas, é sabido que diversas religiões retiraram de seus escritos esta ferramenta da natureza, uma vez que mais prejudicou do que ajudou, haja vista que muitos acomodaram suas esperanças nas próximas vidas, o que é um erro enorme.
Aqueles que imaginam que terão de ir para o inferno ou para o céu, dependendo do seu comportamento na Terra estão na vantagem no sentido de procurarem se esforçar a cada dia por serem melhores, evitando o inferno, portanto, ou ainda os materialistas, que imaginam que tudo acaba com a morte também, haja vista que procuram extrair o máximo da vida a cada instante, ao passo que o reencarnacionista deixa tudo para o futuro.
Cada nova existência deixa grandes probabilidades de emaranharmos com novas pessoas, contrairmos doenças, deixar-se atrair pela luxúria, os prazeres da carne, enfim, a Terra e seus predicados pode muito facilmente desviar os objetivos primeiros das pessoas de procurarem o reino dos céus, o que a reencarnação concorre como algo que, se possível, teríamos de evitar, ou melhor, usá-la para desenvolver 10 vidas em uma só, tudo para evitar a reencarnação, deixar esta terra para aqueles que realmente necessitam destas provas e expiações, e procurar viver em páramos mais leves e alegres, longe dos dramas que a vida terrestre oferece.
“Venha a nós o teu reino” é uma frase no pai nosso que cabe nos tópicos de encarnação uma vez que, Jesus, observando que a Terra se transforma em um local de sofrimento, em especial na época em que vivia o povo judeu sob o jugo romano, fazer com que a Terra fosse um espelho dos reino dos céus, era e é realmente um desafio para todos, que só pode ser conquistado com a observância dos preceitos crísticos do amar ao próximo, do perdoar, da caridade e do desapego, pregoados por Cristo.
A encarnação ou reencarnação, portanto, é uma verdadeira jornada cheia de desafios, que pode ser mais leve e até prazerosa se o indivíduo passa por ela com consciência leve, sem mágoas ou rancores, um experiência única, realizada em conjunto com a humanidade de cada geração, pois, longe de viver em uma ilha, os habitantes da terra vivem como se a terra fosse um grande barco, onde cada um têm sua participação na grande viagem rumo aos caminhos que levam à Deus.
Com a encarnação, compartilhamos, de forma mais ou menos igual, todos os benefícios e avanços da medicina, as esperanças de cada geração, a oportunidade de cruzar com as ideias inovadoras dos gênios de cada época e neste embate de ideias, com as mudanças, evoluímos.
Época única na história, neste momento de transição de planeta de provas e expiação, a encarnação atual dos terráqueos pode ser indicada como a mais importante, não só porque a humanidade, agora, reúne tudo o que aprendeu no avançar dos séculos, mas porque o momento é decisivo se iremos ao encontro da espiritualidade maior, sendo atraída por espíritos mais evoluídos moral e espiritualmente, ou ficamos para trás, junto daqueles que priorizaram a materialidade e seus derivados, apegados a velhos preceitos.
Há quem diga que nem oportunidade de reencarnar nesta Terra terão aqueles que não avançarem, a fim de não mais atrapalharem aqueles que, desapegados de velhos paradigmas, estão aptos a receber as bênçãos destinadas a uma nova humanidade que está por vir, merecedora de alívio e paz.
A reencarnação, desta vez, ao menos nas condições que o planeta se encontra, pode ser a última. Graças a Deus.