Semana Santa: Da Crucificação à Ressurreição

Em cada vida humana, assim como na jornada de Cristo, existe um ciclo sagrado de morte e renascimento. Somos convidados a crucificar nossos defeitos e limitações para experimentarmos a gloriosa ressurreição de nosso ser espiritual. Nesta Semana Santa, contemplemos este processo transformador que nos conduz à verdadeira liberdade.

Vamos crucificar a ignorância para a sabedoria

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6). A ignorância espiritual é uma das maiores causas de sofrimento. Assim como Cristo foi crucificado para trazer luz ao mundo, precisamos crucificar nossa presunção de já saber tudo para abrir espaço à verdadeira sabedoria divina. Fazemos isso com os bons hábitos da leitura, participação de palestras e áudios correlatos.

Vamos crucificar a má vontade ou indiferença para a vontade de trabalhar e servir

 O amor verdadeiro se expressa em serviço. Quando Jesus lavou os pés dos discípulos, ensinou-nos que servir é a mais elevada expressão de amor. Este princípio fundamental nos convida a abandonar a inércia espiritual e abraçar o trabalho no bem. Todo carma é aliviado quando aliviamos o karma de alguém, ainda que seja somente nos limites do casamento, da própria família, até se expandir para o amor universal, além do próprio país. 

Vamos crucificar as prisões mentais e ilusões para a liberdade espiritual e força de vontade

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Quando Cristo permitiu que seus braços fossem pregados à cruz, demonstrou a suprema liberdade do espírito sobre as limitações da matéria. Acreditar que a matéria, que este mundo é o que de melhor temos é uma ilusão, nenhum governo, nenhuma cidade, nenhum país deste mundo nos trará felicidade perfeita, nem corpo, marido ou mulher mais bonita o fará. Jesus apontava sempre para cima.

Vamos crucificar os vícios e maus hábitos a fim de libertar a pureza e valores eternos

Esta jornada nos convida a eliminar de nossa vida tudo o que nos afasta do caminho espiritual. No “Evangelho Segundo o Espiritismo”, lemos: “Os bons espíritas reconhecem-se por sua transformação moral e pelos esforços que fazem para dominar suas más inclinações.” Quando Jesus rejeitou o vinagre misturado com fel durante a crucificação, ensinou-nos sobre a pureza que devemos cultivar. Assim podemos seguir este exemplo de crucificação diária de tudo que nos afasta do divino, maus hábitos seja de dormir demais, beber demais, comer demais, indulgência sexual entre outros minimizam o poder da vontade espiritual, minimizam forças anímicas, podendo impossibilitar o impulso ascendente do espírito.

A Crucificação de Cristo e Nossa Transformação Diária

Na sexta-feira da Paixão, contemplamos o momento em que Jesus, pregado à cruz, exclama: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Este pedido de misericórdia nos convida a uma profunda reflexão sobre nossas próprias limitações.

Como seres ainda presos à carne, frequentemente agimos por impulso, ferimos pessoas que amamos, e nos afastamos do caminho do bem por ignorância ou fraqueza. Reconhecer essas limitações é o primeiro passo para nossa transformação.

Quando aceitamos a misericórdia de Cristo, reconhecemos humildemente nossa condição de aprendizes imperfeitos, mas em constante evolução. A cada dia, somos convidados a crucificar nosso orgulho e vaidade, como Jesus nos ensinou ao aceitar a coroa de espinhos. Em nosso cotidiano, isso significa reconhecer nossos erros, pedir perdão quando necessário, e estar dispostos a recomeçar o caminho.

Ressurreições Diárias

Ressurreição do medo para a coragem
“Não temas, eu venci o mundo” (João 16:33). Estas palavras de Jesus nos lembram que a verdadeira coragem não é ausência de medo, mas confiança na presença divina. A ressurreição de Cristo é o símbolo máximo da vitória sobre todos os temores, inclusive o da morte física.

Ressurreição da carne para o espírito

 “O espírito é que vivifica; a carne para nada aproveita” (João 6:63). Cada vez que subordinam os nossos impulsos carnais aos valores do espírito, experimentamos esta ressurreição em nossa vida. Devemos lembrar que o que deve dominiar o corpo é a mente, não o inverso, onde alguns deixam o corpo e seus desejos dominar a mente, subjugando-a

Ressurreição da falta de esperança e dúvida para a fé e convicção

Kardec, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, afirma: “A fé inabalável é somente aquela que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” Quando Tomé tocou as chagas de Jesus, sua dúvida converteu-se em fé inabalável – assim também podemos encontrar certezas espirituais em meio às provações da vida. Com isso vemos que é natural e desejado primeiro extinguir todas as dúvidas por meio da razão, com a luz do intelecto, no entanto, com o tempo e amadurecimento, com as experiências da vida, com meditação, a luz do intelecto, frente à luz do espírito, mais intenso, vivo no coração, torna a fé convicção, deixando toda a falta de esperança, medos e receios para trás em qualquer situação da vida, pois mente e espírito então vivem integrados em perfeita sintonia com o mundo espiritual, que nos rodeia de forma mais acertada e interativa do que o mundo físico, tão atraente para alguns.

Ressurreição do materialismo para a espiritualidade

O materialismo nos prende às ilusões passageiras, enquanto a espiritualidade nos conecta com verdades eternas. Quando Jesus ressuscitou, demonstrou a supremacia do espírito sobre a matéria – lição que somos convidados a aprender diariamente. Acordar da ilusão das posses, fama e sucesso passageiro terreno ao recebimento como filho do criador do universo é sem paralelo, quando o Divino realmente percebe que estamos desapegados às ilusões da materialidade, que entregamos tudo para ele, então muitos de nossos “antigos” desejos são realizados, até mesmo como um teste, para ver se realmente vamos perder tempo ou se entreter em demasia com os presentes ou mimos do eterno ou se vamos realmente nos aprofundar em seu amor, no êxtase e satisfação do cumprimento da vontade Dele. Até chegar nesse ponto, a diminuição do tempo dedicado à satisfação de meros desejos podem e devem ser diminuídos e a meditação e prece aumentados.

A Presença Divina Universal

Jesus se desprendeu tanto do corpo físico quanto do seu corpo astral e mental, unificando-se com o Pai Celestial. “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Esta unidade divina nos permite encontrá-lo em toda a criação: em cada flor que desabrocha, simbolizando a renovação constante; no alvorecer do dia, quando as primeiras luzes anunciam um novo começo; em cada sorriso sincero, manifestação visível do amor.

Na meditação profunda e na oração fervorosa, podemos conectar-nos com sua presença. Como ensina O Evangelho Segundo o Espiritismo: “A prece é uma invocação pela qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige.”

Sem sua influência amorosa, a humanidade já teria sucumbido aos impulsos de destruição. Entre todos os países e culturas, seu amor se manifesta de maneira universal, transcendendo fronteiras e diferenças.

A energia de Cristo é eterna, apaziguadora, misericordiosa e libertadora. Ela nos convida a experimentar, a cada dia, pequenas mortes e ressurreições, permitindo que o Cristo interior desperte em todas as dimensões de nossa existência. Porque, como nos lembra Paulo, “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20).

Que nesta Semana Santa possamos refletir sobre as crucificações necessárias em nossa vida e abrir nosso coração para as ressurreições que o Mestre nos oferece a cada amanhecer.

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Evangelho Segundo o Espiritismo, por Allan Kardec
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