Sermão da Montanha, parte 02

Bem aventurados os mansos e pacíficos, pois herdarão a Terra, (Mateus, 5-5), capítulo IX do Evangelho segundo espiritismo

No Evangelho segundo o Espiritismo vemos que o autor coloca, para fácil entendimento, o contraste do brando e pacífico, com o outro ríspido e grosseiro, ao submeter uma pessoa que desenvolve comportamento repreensível por ter mau humor, desprezo ou irritabilidade com o outro, ao citar a passagem bíblica a qual nos indica não maltratar o próximo, não amaldiçoá-lo, assim como fez aquele que disse: “racca”, cuja palavra é era usada como uma espécie de maldição, na época de Cristo, que é algo contrário ao amor.
Os mansos e pacíficos, sinônimo de brandos e dóceis, conforme a tradução usada, faz referência a um comportamento e atitudes amáveis, dignas do Ser Humano espiritualizado, que se esforça em remover os traços da brutalidade e do velho homem, adquiridos em encarnações passadas.
Os mansos e pacíficos, portanto, são aqueles que desejam ter um comportamento próximo daqueles que se espelharam e se espelham em Jesus ou de grandes profetas, pois estes, embora tenham apresentado comportamento por ora severos e justos, e até enérgicos, eram, por sua natureza pacífico e brandos, não procurando confusão, muito pelo contrário, suas palavras e comportamento revelavam lucidez, tinham a mente, corpo e espíritos centralizados no amor divino, paciencioso, generoso, que ensina e educa, portanto, ao refletir esta paz interior e vida cheia de espírito nem podiam se mostrar de outra forma como pacíficos e brandos, pois sabiam que estavam resguardados e confiantes na providência divina.
Um dos aspectos do comportamento e atitudes pacíficas e brandas é a capacidade de estar sempre em sintonia de receptividade para as bençãos do alto, ou seja, aquele que tem a mente tranquila, consegue enxergar as oportunidades e sinais da espiritualidade maior a acatar aquilo que de melhor pode ocorrer com ele.
O contrário também é verdadeiro, ao citarmos que, caso uma pessoa não tenha a mente tranquila e uma atitude de receptividade, esta pode facilmente perder oportunidades de melhora para ela mesma e para os outros que a rodeiam.
Há uma passagem no livro Nosso lar onde uma pessoa, assim que desencarnou e chegou nos hospitais para tratamento, não parava de tagarelar, de reclamar por seus parentes, pelos bens que não sabia o que tinha acontecido com eles, etc. estava acamada, sem forças, com confusão mental e, ao solicitar ajuda para um dos enfermeiros de plantão este simplesmente lhe disse:
– “tome este copo com água que tudo irá melhorar” e fez com que a pessoa repetisse o ato de tomar água repetidas vezes como se este fato, por si, fizesse as coisas melhorarem, no entanto, ao tomar a água esta pessoa simplesmente deixava de tagarelar e pensar demais sobre acontecimentos que, naquela hora, simplesmente estavam fora de seu controle. Isso já trazia certa paz.
Os mansos e pacíficos herdarão a Terra é uma promessa de Jesus para todos aqueles que confiam na providência divina, sabem que sim, não podem deixar de observar e cuidar de seus problemas, caso contrário não teriam sidos abençoadas com a divina capacidade de discernir e raciocinar, no entanto, percebem que a vontade humana, sozinha, pode ser falha e insuficiente para certos problemas e decisões na vida, cabendo a permissão de Deus que estes se resolvam ou que o alto dê uma luz para a pessoa que necessite.
“Herdarão a terra” traz um sentido que as necessidades físicas, ou seja, até mesmo as materiais serão recompensadas por aqueles que apresentam comportamento brando e suave, mais uma vez, por confiarem na justiça divina e esta nunca falha.
O Evangelho segundo o espiritismo também revela, com acerto, que época virá onde haverá mais equilíbrio do que tensão entre os habitantes da terra, e, neste ambiente de paz, a prosperidade irá florescer naturalmente na terra, sendo, desta forma, o homem brando e pacífico recompensado pelo seu comportamento crístico plantado nesta época em que vivemos agora, onde ainda, infelizmente, reinam discórdia, escassez e tensões por todo o globo.

Bem Aventurados os que são misericordiosos, porque eles alcançarão a misericórdia (Mateus, 5:7) capítulo X, Evangelho segundo espiritismo

O Evangelho segundo o espiritismo explica esta passagem de forma categórica, sem deixar enganos. A misericórdia é sobretudo divina, pois, primeiramente, Deus é misericordioso com as nossas falhas, o que ficou claro quando Jesus fez para conosco a intervenção, naquela época: “ Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem”, nos enxergando, portanto, como crianças que não percebem o mal que estávamos a fazendo a nós mesmos.
O mesmo comportamento, contudo, é esperado daqueles que querem espiritualizar-se e voltar para o abrigo da luz.
Realmente é necessário grandeza espiritual para perdoar o mal que os outros nos fazem, e ainda assim é desejado que este perdão seja sincero, meras palavras, “eu te perdoo” não tem validade para Deus se forem ditas de forma vazia, de forma que nossas próprias falhas não podem não ser perdoadas, conforme a promessa diz.
“Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia” nos traz uma condição: para sermos perdoados, isto é, para que Deus veja e considere mais a bondade que está em nosso coração e, com isso, nos recompensa com a vida eterna a seu lado, é necessário que, em troca, também tenhamos a grandeza de perdoar o outro de maneira desinteressada.
É muito comum receber nas casas espíritas espíritos desencarnados por violência, seja por uso de armas de fogo, armas brancas, batidas de carros entre outros, o que faz com que o espírito assim desencarnado entre nas chamadas tribulações pós-morte.
Em grande parte dos casos, imediatamente ao dar voz para tais por meio do corpo de um médium, não raro as imprecações, xingamentos se fazem ouvir… e, na maioria das vezes, assim que é dado para tal espírito a oportunidade de enxergar as causas antigas de tal situação, aquela pessoa que causou tal situação, isto é, um agressor, foi o agredido, em outra ocasião, sendo, de certa forma, um mesmo filme com os papéis invertidos, apenas.
A misericórdia indicada por Cristo, portanto, não deve ser realizada como um jogo de recompensas, mas sim de um elevado propósito, para a restauração do equilíbrio entre duas ou mais partes as quais, por ora, estão ligadas por centenas, quiçá milhares de anos.
Está no passado, na época medieval, onde os problemas se resolviam “olho por olho, dente por dente” na qual as famílias trucidaram-se, aniquilando-se quando um membro da família atacava, às vezes sem intenção, um membro de uma outra família. Com o desenvolvimento da ciência e da razão, novos meios, mais amenos, com mais civilidade, foram definidos por meio da justiça terrena, para grandes e pequenos conflitos, e, ainda que esta nem sempre funcione 100%, ainda assim é mais leve e sutil que na forma que se apresentava na época das trevas.
A passagem estudada, dada por Cristo entre as bem-aventuranças, indica que tal perdão, essencialmente, deve ocorrer no coração do indivíduo, onde Deus concentra seu olhar.
No espiritismo, se tornou famoso o caso em que um casal de pais espíritas, bem como o juiz do caso, acatou o perdão para com um jovem que, acidentalmente, disparou contra um amigo, usando arma de fogo, tal caso se deu em maio de 1976, com a morte do jovem Maurício, com apenas 15 anos. Segundo investigações, o garoto havia sido assassinado pelo seu melhor amigo, José Divino, com 18 anos.

A família do jovem absolvido resolveu, a partir de então, acreditar na vida após morte e buscou mais a espiritualidade, pois a carta psicografada do Médium Chico Xavier veio a mostrar que o tiro foi disparado por engano, sem a intenção de matar, conforme as primeiras investigações acusavam.
Este é somente um caso onde o perdão, a misericórdia, pode sanar e atenuar mais conflitos e uma terra já tão cheia de problemas como a que se encontra a de hoje.
Por isso vale a frase, “mil vezes melhor ser ofendido do que o ofensor!”, pois o ofendido, pode estar apenas apagando ou queimando um carma do passado, ao passo que o ofensor pode estar somando uma falha a mais em seu corolário de más intenções, vindo a ficar sujo perante os olhos de Deus!.
Que possamos experimentar a bênção da remissão dos pecados assim como o ladrão que, estando ao lado de Cristo na Cruz, arrependido, pôde ter seu fardo aliviado e, após o suplício na cruz, subir ao palácio resplandecente dos bem-aventurados.