Bem aventurados os pobres de Espírito, porque deles é o Reino dos céus, (Mateus, 5-23), capítulo VII do Evangelho segundo espiritismo
Mostra o pobre no sentido de evitar o orgulho, tendo o orgulho em termos de faculdades do espírito, ou como orgulho de conhecimento, tanto que, passam demasiado tempo olhando para si mesmos, para suas tarefas corriqueiras em vez das coisas do alto, das coisas do Divino.
Outro aspecto do orgulho, contrário a humildade aqui colocada, se dá em relação ao não aceitar as coisas por outro ponto de vista que não for dentro daquilo que eles imaginam ou estudaram como certo, isto é, a não flexibilidade e espírito de pesquisa, que sempre poderá haver neste campo, assim como ocorre no campo de outras ciências. A soberba espiritual não permite que outras ideias sigam trilhos diferentes daqueles que imaginam possuir na totalidade.
Confundem os sentidos de pobres de espírito aqueles que não tem instrução suficiente nestas coisas espirituais
A pobreza, no sentido mostrado pela parábola, portanto, se refere à humildade e simplicidade de coração, enaltece, portanto, uma riqueza moral.
É interessante reforçar aqui, para evitar interpretações precipitadas, que o aspecto terreno, de riqueza em termos de posses materiais não foi comentada não só por ser assunto diverso daqueles espirituais, mas também porque os bem aventurados, no sentido de merecerem o reino dos céus, podem ser tanto os ricos quanto os pobres, independe da condição social, mas sim depende de sua constituição interior, não discriminando, com isso, aquelas pessoas abastadas terrenamente, assim como não o faz com o pobres.
A humildade, que aparece no sentido de pobreza, é dita de forma filosófica e anterior às coisas do mundo, cujas propriedades ultrapassam as vulgares expressões externas, dito por outras palavras, Deus olha para o coração da pessoa e não para o bolso.
É certo que aqueles que se ocupam demasiadamente com as riquezas da terra não têm tempo para as coisas do Divino, por isso, serão privadas da primazia Divina, cuja escolha deixaram para segundo ou terceiro lugar.
Há aqueles que optam em ser propositalmente renunciantes, isto é, despojaram-se de todo e qualquer objetivo de riqueza na terra, a fim de encontrarem o retorno a Deus, tal como fez Francisco de Assis Ghandi, Madre Tereza, entre outros santos que passaram pela Terra, isto também é uma prova da busca da pobreza de espírito, isto é, a humildade consciente. Tal renúncia é adotada a fim de servir como um lembrete sempre presente na vida do devoto, de que nenhuma posse, que às vezes é relatado como mero brinquedo, pode substituir o verdadeiro preenchimento do amor e grandeza espiritual, conseguida por esforços constantes pela luz espiritual.
Pela lei da compensação, é mais agradável a Deus aquele que renunciou toda uma fortuna em busca para Ele, isto é, toda a pompa, prazeres, e aprovação social do que aquele que nunca teve posses e, acreditando que está negociando com Deus, maldizer os ricos e não procurar evoluir, acreditando ser agradável ao criador.
Bem Aventurados os que choram, porque eles serão consolados, (Mateus, 5:4) capítulo V, Evangelho segundo espiritismo
O Evangelho segundo o espiritismo explica esta passagem das beatitudes sob o prisma da lei da ação e reação, mostrando que haverá uma compensação de tais sofrimentos em uma época da jornada da pessoa nesta criação. Esta abordagem, do aspecto da reciprocidade, está correta, pois é frequente, nos livros e romances espíritas, as pessoas que hora vem como sofredoras, depois tem a oportunidade de estarem em condição melhor, quiçá no mesmo lugar ou posição daquelas às quais a fizeram sofrer, filhos que sofreram nas mãos dos pais, depois serão os pais; maridos ou filhos que sofreram por causa das inconsequência de alguma mulher, estarão em breve no lugar desta e poderão ou não causar os mesmos prejuízos a outrem, empregados que choram na mão de chefes rudes, sarcásticos ou abusadores, terão os papéis trocados, para que o choro de um tenha a possibilidade de ser o do outro, para aprendizado mútuo.
O livre arbítrio estará presente, pessoas as quais fizeram outras sofrerem por discriminação, seja racial, sexual ou qualquer que seja, terão de voltar e estar sob o mesmo papel daquelas que fizeram sofrer, a fim de que, na dor que o outro sentiu, no choro que fez para o outro, aprenda a evitar em causar tal dano, e, desta forma, não mais haverão de chorar, terão suas lágrimas enxugadas pela condição natural da consequência de seus atos.
Outro aspecto da passagem acima, que promete que serão bem aventurados aqueles que choram, sendo, depois, consolados, pode também ser explicitada da forma espiritual, no sentido que devemos ansiar do fundo do coração o retorno ao mundo celestial, para o seio do criador, para a nossa verdadeira satisfação, sendo assim, como crianças, choramos pelo afeto e atenção do Divino, que, pela lei da compensação, misericordioso que é, compensa com sabedoria e alegria de vida aqueles que o anseiam.
Tal anseio, de fato, pode ser visto no livro espírita “Parnaso além túmulo” de Humberto de Campos, cujas primeiras impressões, após o desencarne na terra, foi de ter se lamentado não ter chorado tanto quanto poderia, em buscas das coisas espirituais, quando trabalhava como escritor no Rio de Janeiro.
É preciso diferenciar, portanto, que o choro a que se refere Jesus em seu sermão da montanha não pode ser um choro qualquer, quiçá por um amor desventurado, uma crise de ciumeiras ou a partida de um ente querido, este tipo de choro nasce muitas vezes do apego às coisas mundanas e serve para nos lembrar que todo ele é uma ilusão, transitória, como uma miragem daquele que está seco por um copo de água no deserto.
O Choro, elucidado acima, é pela água da vida, pelo amor ao Divino, pela paz, alegria típica de quem segue os mandamentos do eterno.
O choque, que boa parte das pessoas leva quando parte desta terra para o plano espiritual, um choque de realidade, pois é como se um véu descesse das vistas, e mostrasse as finas divisas que nos separam dos planos espirituais, comentados por Jesus como “as moradas do pai”, faz muitas vezes que os espíritos desencarnados chorarem, esse choro pode ser aplainado já aqui na Terra pela busca destas mesmas coisas espirituais, cuja procura deixa tal véu pouco a pouco adelgaçar-se, a fim de limitar o impacto de tal choque, que invariavelmente atingirá a cada um que tem o manto de carne.
Estas duas estrofes, dos simples de coração, bem como daqueles que choram na promessa que é deles o reino dos céus e que seus sofrimentos serão compensados, tem uma ligação, porque ferem o ego do Ser humano que confia somente em si mesmo, que não procura correlacionar a espiritualidade em seu dia a dia e que costuma passar pela existência terrena como tem feito pelos séculos anteriores, despreocupadamente.
É notório que, entre as bem aventuranças acima, uma espécie de lei da compensação pode ser assim traçada em ambas, pois no primeiro caso, temos uma espécie de satisfação íntima, do prazer de se sentir possuidor do conhecimento, no qual, sendo assim, já existe por si só a recompensa, não cabendo a Deus uma segunda ou terceira compensação de tal alegria, ainda que esta seja falsa, mas que compele a pessoa a um regozijo interior, que se sobressai perante outros.
No segundo caso, também há uma lei da compensação vigente, mas que, neste caso, é favorável à pessoa, pois desta vez, ela rebaixa-se, espiritualmente falando, dando vez aos mandamentos divinos, ansiando por ele, buscando-O, orando para o altíssimo, chorando, assim como versículo de Mateus indica, dando espaço para o preenchimento de tal necessidade, pois cada pedido, com mérito, há de ser preenchido, pois o mesmo autor da parábola, em Marcos disse que:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á”.
Ainda dentro do contexto da segunda parábola, onde aqueles que choram terão suas lágrimas secadas pelo consolo, tem a ver com uma máxima, onde “mais é menos”, aqui dada no sentido que as pessoas procuram por elas mesmas acumulação, de todos os meios, de amizades desnecessárias, de bugigangas, prazeres temporários, uma casa maior, uma cidade mais moderna, um carro mais veloz, enchendo-se de responsabilidades, de afazeres que mais e mais tende a trazer preocupação e dissabores, do que real contentamento, dado que, não cabe o recebimento das dádivas simples, como os laços de amizades verdadeiras, de experiências enriquecedoras, de paz de espírito, de tranquilidade.
Um mestre espiritual certa vez disse: “dize-me o que que queres que eu lhe mostrarei como você não precisa disto!”, alertando-nos que nem sempre a satisfação de nossos desejos são realmente para o nosso melhor, muitas vezes, a não realização é justamente o que precisamos, no sentido mais amplo que o apego às coisas mundanas acarreta o sofrimento.
O sermão da montanha, em suas passagens, como sempre, nos lembra do amor de Deus, pois Jesus, como seu representante, vem nos alertar do perigo da soberba, da vaidade, do acúmulo desnecessário de posses terrenas, de responsabilidades e tarefas que nos afastam da devoção da meditação e por fim da ligação com a espiritualidade amiga, com as coisas do divino.
A promessa a elas ligadas também nos serve para lembrar que a realização não está já aqui na Terra, mas sim no plano espiritual, já que a própria mensagem tem origem espiritual, o que está em congruência com a filosofia espírita, pois esta tem focos nas vidas sucessivas, na perpetuidade da existência como necessária à perfeição do gérmen do espírito.