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No coração da literatura espírita, revelada através do pentateuco kardecista – obras fundamentais como O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese –, encontramos uma sabedoria profunda que, infelizmente, é frequentemente evitada, ridicularizada ou demonizada por aqueles que a veem como mera comunicação com “espíritos” ou “vultos”, termos usados de forma pejorativa para desqualificar sua origem espiritual. No entanto, imagine por um momento: e se esses espíritos fossem elevados, como o próprio Jesus, um espírito puro que encarnou em carne e osso para guiar a humanidade? Jesus não é apenas uma figura histórica; ele continua atuando ativamente nesta esfera do universo, inspirando e elevando almas em busca de evolução. Essa perspectiva transforma o que parece “baixo” em algo sublime, convidando-nos a explorar a Trindade Divina com mente aberta e coração receptivo.
Tudo começa com Deus, o Pai, definido de forma magistral em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Na Parte Primeira, Capítulo I – Das Causas Primárias, a questão inaugural indaga: “Que é Deus?” E a resposta ecoa com clareza eterna:

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

Essa definição não é abstrata; ela ressoa diretamente com as Escrituras Bíblicas, como em João 1:1-3:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe.”

Aqui, vemos Deus como a fonte eterna, vivo antes de qualquer criação, sempre renovado em bênçãos, luz e completude. Ele é o arquiteto primordial, cuja vontade – o Verbo – se manifesta em um ato criador explosivo, como narrado em Gênesis 1:3: “E disse Deus: Faça-se a luz! E houve luz.” Essa luz não é mera iluminação física; é a essência da vida, espalhando-se pelo vazio cósmico em ondas de calor, som e energia, preenchendo o nada com propósito divino.
Mas por que criar? Deus, em Sua magnificência infinita, não desejava a solidão eterna. Essa criação foi um ato supremo de amor, a primeira manifestação do divino, um mar de fogo eterno que sustenta e gera tudo. Como explica Kardec em A Gênese (Capítulo II), a criação surge da vontade divina, um pensamento inicial que dá origem a consciências elevadas para co-criar o universo. Assim, introduzimos o segundo aspecto da Trindade: o Filho. Embora muitos associem o Filho exclusivamente a Jesus Cristo – e sim, ele é a encarnação mais conhecida dessa consciência –, sua existência transcende o tempo terrestre. Essa consciência Crística existia “antes que o mundo existisse” (João 17:5), atuando como o grande arquiteto dos planos divino, causal, astral e físico. No hinduísmo, isso ecoa na figura dos avatares, como Krishna na Bhagavad Gita (Capítulo 4, versos 7-8), que desce periodicamente para restaurar o dharma. Jesus, Krishna, Buda – todos são expressões dessa consciência, um portal luminoso entre o Pai e a criação, guiando a humanidade através de encarnações sucessivas. No Espiritismo, Kardec reforça em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo I) que espíritos elevados como Jesus vêm para elevar a moral e o progresso espiritual, prometendo retornos futuros para completar sua missão.
Finalmente, o terceiro pilar: o Espírito Santo, o braço executor de Deus na criação. Ele infunde vida às engrenagens do universo, regendo os ciclos de nascimento, crescimento e decomposição – leis imutáveis como a ação e reação (karma, em termos espíritas e hinduístas), a atração e a gravidade. Em O Livro dos Espíritos (Questão 27), Kardec descreve os espíritos como agentes da vontade divina, e o Espírito Santo personifica essa inteligência imanente, presente em toda a matéria. No hinduísmo, isso se assemelha ao Trimurti: Brahma (criador, como o Pai), Vishnu (preservador, como o Filho) e Shiva (transformador, como o Espírito Santo, regendo a dissolução e renovação). O som primordial do OM, vibrado pelos hinduístas e budistas, evoca o Verbo criador de Gênesis, enquanto o “Amém” ou “Que assim seja” dos espíritas materializa a vontade divina, concretizando o que deve ser. Em termos metafísicos, o branco puro representa o Pai, reunindo todas as cores; o azul celeste ou violeta claro irradia da consciência Crística, visível em santos como Chico Xavier (em relatos de médiuns) ou Francisco de Assis; e o amarelo ouro emana do Espírito Santo, ouvido e visto por almas realizadas.
As religiões do mundo, unidas nessa essência, ecoam a promessa de Jesus em João 16:7-13:

“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós; mas, se eu for, eu vo-lo enviarei… Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.”

Esse Espírito da Verdade não é exclusividade de uma doutrina; ele se manifesta no pentateuco espírita, na Bíblia, no Novo Testamento ou nos Vedas hindus. Seu propósito? Guiar-nos à união final com Deus, à emancipação espiritual – a verdadeira realização onde o amor divino preenche tudo. Ao abraçar essa Trindade integrada, encontramos não divisão, mas harmonia, convidando cada alma a evoluir rumo à luz eterna.

Referências: 

Bíblia de Jerusalém. (2002). São Paulo, SP: Paulus Editora.
Citações específicas: Gênesis 1:3., João 1:1–3., João 16:7–13., João 17:5., Colossenses 1:15–17.

Kardec, A. (2005). A Gênese (H. A. Pordeus, Trad.). São Paulo, SP: Federação Espírita Brasileira. (Original publicado em 1868). Citações específicas: Capítulo II; Capítulo III.

Kardec, A. (2007). O Livro dos Espíritos (G. Pinto, Trad.). São Paulo, SP: Federação Espírita Brasileira. (Original publicado em 1857).Citação específica: Parte Primeira, Capítulo I, Questão 1.

Kardec, A. (2008a). O Evangelho Segundo o Espiritismo (G. Pinto, Trad.). São Paulo, SP: Federação Espírita Brasileira. (Original publicado em 1864).Citação específica: Capítulo XV.

Kardec, A. (2008b). O Livro dos Médiuns (G. Pinto, Trad.). São Paulo, SP: Federação Espírita Brasileira. (Original publicado em 1861).

Yogananda, P. (1982). Man’s Eternal Quest: Collected Talks and Essays on Realizing God in Daily Life, Volume I (2nd ed.). Los Angeles, CA: Self-Realization Fellowship. (Original publicado em 1972).

 

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