Reforma Íntima

Reforma Íntima

A reforma íntima pode ser definida como processo contínuo de melhora do Ser Humano em si, espiritualmente falando, o que se irradia em seus pensamentos, comportamentos e atos, tornando-o mais agradável a Deus, na medida em que se aperfeiçoa nos princípios cristicos indicados na filosofia espírita.

Na senda que leva a pessoa para o reino espiritual, era de se esperar que esta faça uma espécie de reformulação de suas idéias, abandonando o homem velho e abraçando o homem novo, quando se afasta da vaidade, da luxúria, do apego somente às coisas mundanas e se simpatiza e internaliza as virtudes como caridade, desapego e fé.

Já o sábio da antiguidade Sócrates comentou: “conhece-te a ti mesmo” e na resposta à pergunta 919-A, feita por Kardec aos Espíritos, SANTO AGOSTINHO afirma: “O Conhecimento de Si Mesmo é, portanto, a chave do progresso individual”.

A reforma íntima, como o nome sugere, é um trabalho a ser realizado dentro de nós mesmos, uma auto análise profunda e criteriosa, sem apegos, que ajuda a desnudarmos e descobrir em nós quais são os pontos positivos e negativos.

A comparação que Santo Agostinho faz em relação a auto observação é categórica: não passa o homem a vida toda, no trabalho, muitas vezes sob penúrias, visando o período da aposentadoria onde pode finalmente descansar ou  fazer o que melhor entender? da mesma forma cada qual pode reservar um tempo ao final de cada dia verificar se tem fez algo que merece reprova diante dos olhos de Deus, na esperança de se corrigir, pois, ainda que seja difícil esta tarefa, a adaptação de nossa vontade com a do Criador, ainda assim, ao final da existência terrena haverá a recompensa, um descansar ou trabalhar de forma mais livre e desperta.

Certo é que os defeitos que acumulamos desde experiências anteriores na carne se manifestam com maior ou menor intensidade, dependendo do nível de apego às coisas materiais e falta de estudos espirituais, mas dentre aqueles erros e falta que mais se destacam no Ser Humano podemos destacar 7:

orgulho – amor próprio acentuado, todo aquele que tem mania de se exibir, de mostrar como ele sempre tem razão e os outros estão errados, de vangloriar-se na posição social e de se sobressair a qualquer modo pode ser considerado orgulhoso; 

vaidade – mãe dos erros, também um estado de superavaliação de si mesmo, tem prazer em humilhar pessoas mais simples e humildes, quer ser o primeiro em todas as oportunidades, coloca o eu sobre todas as coisas;

inveja – desejar aquilo que é dos outros, seja posição social, marido, mulher, carro, é lutar por causar inveja nos outros, a pessoa invejosa vez em quando é acometida por tristeza, depressão e sofrimento pela falta daquilo que outro possui;

ciúme – é o desejo da posse, um sentimento doentio de aprisionar o outro no controle individual;

avareza – sentimento de escassez, desejo de acúmulo de dinheiro;

ódio – um dos mais antigos e vis sentimentos desenvolvidos pela humanidade, deixa cego aquele que, odiento, pode cometer os maiores crimes, como violência e assassínio, desde que o ódio tome conta dele;

vingança – desejo de “dar o troco”, de causar sofrimento a outro de modo premeditado, quiçá com crueldade.

Mesmo sendo os principais, cada qual, no processo de reforma íntima, deve observar a si mesmo se existem outros que possam estar se manifestando com maior ou menor intensidade, como os hábito de falar mal dos outros sem que estes estejam presentes, do sexo em demasia, do abuso do álcool entre outros, os quais podem, com o tempo, desenvolver irritabilidade, disposição a julgamentos rápidos, desânimo, insegurança e fala de fé.

A reforma íntima pode ser trabalhada de forma eficaz quando tratada diretamente na raiz dos males individuais, que é a vaidade e egoísmo, por meio do desenvolvimento de qualidades que as amenizam ou extirpam do Ser Humano como o desapego e a fé.

A virtudes principais são:

humildade – se contentar com aquilo que tem, de não exigir que a vida lhe recompense acima de suas próprias capacidades, reconhecer o trabalho dos outros.

modéstia – é não arrogar para si mesmo méritos, mesmo que estes caibam à sua pessoa, prima de humildade, a modéstia também é uma variância na medida em que uma pessoa modesta prefere viver de maneira simples, evita confusões.

sobriedade – vale tanto para o lado físico de evitar comportamentos torpes, de químicos que possam alterar sua sobriedade, como a sobriedade mental e intelectual, procurando o discernimento e sabedoria diante da vida.

resignação – é entender que a vida tem altos e baixos, não se trata absolutamente de aceitar tudo que a vida lhe impõe, mas entender que nem tudo acontece conforme desejamos, muito do que deixa de acontecer ou acontece é direcionado por Deus e seus auxiliare de maneira mais eficaz do que se fosse nós mesmos executado.

sensatez – é avaliar sem pré-julgamentos o que a vida lhe traz de experiência, é um pensar claro, tomar decisões sem parcialidade, visando o bem comun.

generosidade – contrário da avareza, a pessoa generosa sabe que a felicidade está em compartilhar aquilo que Deus deposita em sua vida, que o acúmulo, em termos espirituais, reduz-se a nada, a pessoa generosa sabe que, compartilhando, aumenta ainda mais suas posses, pois o que se dá, se recebe. 

afabilidade – a pessoa afável é simpática, amável, delicada, cortês.

doçura – pessoa de comportamento agradável, sorridente, feliz, sem tempo ruim, com quem se deseja estar por perto.

compreensão – qualidade de pessoas atenciosas, a compreensão marca a pessoa pela sua disposição em ouvir e entender os problemas alheios

tolerância – pessoa tolerante é aquela que aceita e entende as diferenças, sejam elas sociais, econômicas, de gênero ou cor, entende que as pessoas, mesmo de nacionalidades diferentes, fazem parte da grande humanidade, que vive na Terra.

perdão – capacidade de tolerar e dissipar toda a emoção ou atos que venham a prejudicar aqueles que nos causam mal, a pessoa que perdoa não tem necessidade de evitar toda e qualquer repreensão, pois isso significa concordar com o mal, mas, essencialmente, não deve carregar emoções e sentimentos de ódio e vingança, mas sim deixar que a justiça divina repreenda os malfeitores 

misericórdia – prima do perdão, é colocar-se no lugar dos sofredores, não necessitando descer ao mesmo plano do que eles, mas sim enviar auxílio, com energia e recursos necessários para que a dor ou sofrimento de outro venha a ser minimizado

paciência – talvez a mãe de todas as virtudes, assim como o amor, é entender que toda e qualquer ferida pode ser cicatrizada com o tempo, é esperar o tempo do outro, é entender que, de uma ou de outra forma somos todos devedores e necessitados de auxílio, a paciência permite entender que situações, pessoas ou circunstâncias irão melhorar, com o tempo e desfecho no funcionamento natural das coisas.

As virtudes descritas acima fazem o indivíduo possuir a verdadeira riqueza espiritual, aquela que o deixa viver com paz de espírito, que abre caminho para uma vida saudável e feliz, habilitando-o a cumprir seu papel na Terra.

Dentre as virtudes que devemos buscar, podemos identificar quase todas naqueles que possuem mais experiência na busca daquilo que é ideal, se torna uma método ou mecanismo de reforma íntima exercer o “espelhamento”, que é a busca da imitação com consciência daqueles que nos antecederam nesta tarefa, entre os quais o próprio Jesus Cristo que, embora portador de uma centelha Divina, era também em parte humano, tendo aprendido a lidar com todas as mazelas humanas, trabalhou com o material mais pesado que tinha na época, uma população escravizada pelos romanos, mas que, triunfalmente, se destacou no meio em que vivia pela grandeza de espírito, conhecimento, era gentil na maior parte das vezes, mas sabia ser severo quando momento exigia, poderia ter o mundo todo a seus pés, em termos de pompa e riqueza, mas preferiu apontar para as riquezas que estão além desta terra, pois valem mais e são cumulativas, era belo por dentro e por fora, diz-se que sua presença era sentida por grande distância, a natureza prendia a respiração quando estava próximo, era algo fora do comum.

Dentre os espíritos humanos temos várias figuras que podemos nos modelar que fizeram seu dever de casa na área espiritual, temos Joanna de Ângelis, Allan Kardec, Divaldo Franco, Chico Xavier, Santo Agostinho entre outros, os quais, essencialmente, passaram dando pouca atenção às suas próprias ambições e prazeres, passando a olhar mais para outro, sem pensar em receber algo em troca, abriram creches, orfanatos, casas de repouso, estudaram bastante, fizeram muitas amizades, lidaram com pessoas de todos os credos e classes sociais, enfrentaram muita hostilidade mas ainda assim eram e se sentiam felizes, pois sabiam que cabia a Deus a recompensa deles, ou seja, era não era deste mundo.

A participação ou interesse em meios espirituais, conta neste sistema de “espelhamento”, também poderíamos falar de exposição, ou seja, ficar exposto às pessoas e a obras de cunho cristão, com meio de se aproximar de Deus e seus princípios.

Comparativamente, podemos comentar que a literatura espírita e suas obras, sendo cristãs, podem ser comparadas a uma montanha de açúcar.

Há aqueles que se aproximam da montanha de açúcar apenas temporariamente, para saciar sua fome e logo se vão, há aqueles que se demoram na montanha, saciando sua fome e deliciando-se um tempo mais prolongado.

Os benefícios da reforma íntima, da aquisição de um novo caráter ocorre de maneira mais aprofundada e direcionada para aqueles que permanecem mais tempo próximo a montanha de açúcar, no sentido de até mesmo exportarem este alimento para fora dos arredores onde é encontrado.

A reforma íntima traz consciência que não somos vítimas do meio onde nos encontramos, o meio, seja o país, cidade ou mesmo família onde nos encontramos, este meio auxilia ou atrapalha a execução dos projetos que temos em mente, mas, essencialmente, somos nós mesmos que devemos melhorar para que o meio também mude, é como diz aquela máxima, “mude a si mesmo e o mundo mudará” ou ainda, “seja a mudança que você quer no mundo” de Mahatma Gandhi, cujo nome significa grande alma.

Portanto, urge que façamos primeiramente o dever de casa, mudando nossos hábitos, pensamentos, palavras, que estas sejam mais suaves, conscientes, direcionadas, estas pequenas mudanças podem influenciar pessoas do outro lado do mundo, pessoas visíveis e invisíveis, as quais irão replicar tais comportamentos com outros, diminuindo a escuridão que assola a Terra.

A reforma íntima tem relação com o amor na medida em que, não se trata de mudarmos completamente a pessoa que demorou milênios para construir o que somos agora, mas sim, muitas vezes, de aceitar quem nós realmente somos, com os pontos fortes e pontos fracos, buscando minimizar os pontos fracos e aumentar ou melhorar nossos pontos fracos.

Um dos primeiros passos para qualquer tratamento, primeiramente, é, depois da verificação de determinado problema, a aceitação deste problema como realidade, para só então buscar um tratamento, uma pessoa não tem condições de buscar uma melhora em termos de depressão ou ansiedade se primeiramente esta não aceita que é uma pessoa ansiosa ou depressiva.

Um outro indivíduo que é avarento não tem condições de se tornar mais benevolente ou generoso se primeiramente não aceitar que tem o problema da avareza, neste sentido, tomar as medidas necessárias para melhorar este ou outro aspecto se torna uma maneira de amar a si mesmo, tese defendida por Cristo quando disse: “ame ao outro como a si mesmo”.

Amar a si mesmo, neste sentido, não significa dar a si mesmo o que há de bom e de melhor, materialmente falando, mas sim, corrigir-se, aparar as arestas, como meio de evitar sofrimentos para si mesmo, causados por atordoamentos e visão obscurecida do mundo a sua volta.

A reforma íntima precisa ter seriedade, na medida em que, a despeito da necessidade de melhora no mundo todo, a existência terrena, aqui na Terra equipara-se a uma matrícula em uma escola, frequência e desempenho este que, vencidas as turbulências, tentações, provas da vida, estas vitórias nos erguem automaticamente para novas séries, as quais, abrindo novos e desafiadores horizontes, nos trazem novas ferramentas para o sucesso contra nossos próprios erros e imperfeições.

Interessante ressaltar que a purificação ou remodelamento do indivíduo nos moldes indicados pelo cristianismo não faz do indivíduo uma outra pessoa, no sentido de se obrigar a mudar sua essência, não, podemos olhar o processo de reforma íntima como algo que traz de volta ao nosso verdadeiro ser, o processo irá destacar aquilo que de melhor temos como Seres Humanos.

Se, curiosos, acompanharmos os dramas dos livros de romances espíritas, às centenas na grande biblioteca da filosofia espírita, vamos nos deparar quase sempre com histórias inicialmente belas, com famílias aparentemente perfeitas, sem problemas graves mas que, devido ao um apego, uma promessa não cumprida, um vício, acaba desvirtuando a paz e tranquilidade dos indivíduos, não raro atraindo espíritos baixos, que se aproveitam destes momentos para fazerem-se valer sobre os encarnados.

Como seres espirituais que somos, tendo essa experiência carnal temporária na Terra, todas as qualidades ou virtudes reforçam as características humanas, ao contrário do animal que pensa e atua somente visando suas necessidades biológicas e instintivas.

A reforma íntima, desta forma, pode ser encarada como uma volta para o caminho que leva a Deus, que fora, por Ele mesmo traçado desde o início para cada criatura, mas que, devido aos defeitos acima citados, foram desviados da rota inicial.

Ainda neste ponto de vista, que abrange a existência do espírito em torno de milênios, na perspectiva da reforma íntima, mesmo que optemos ou melhor, deixamos nos levar pelo não cumprimento das indicações de Jesus para o reino dos céus, ainda assim, de uma maneira ou de outra, iremos voltar para ele, pois nosso espírito pertence à Ele, a Deus, se diferenciando somente aqueles que têm consciência disso e aqueles que não tem.

A reforma íntima, diante do exposto acima, mostra que está intimamente ligada ao percurso do espírito na evolução espiritual, aparando arestas e se tornando melhor no dia a dia, influenciando muitas vezes, silenciosamente pessoas de longe e de perto, podemos ser modelados por meio do espelhamento de  superiores que já passaram pelo planeta, de forma nos transformarmos no homem novo, agradável e desperto, desejado por Deus.